quinta-feira, 30 de outubro de 2008

NÓS TODOS: APAIXONADOS PELA SOCIEDADE








“EU AMO A SOCIEDADE!”



Estranha declaração de amor! Como é possível amar algo que não tem tamanho, espessura, forma e volume definidos? Como abraçar e trocar afetos com algo tão imenso, incomensurável e abstrato como a sociedade?


Absurdo isso não é pessoal? Mas trocando o tom de brincadeira para uma reflexão séria, Durkheim concebia que a sociedade, salvaguardada pelas regras morais, era realmente amada por todos os indivíduos. (Digo "eram" para me contemporizar com o autor da passagem do século retrasado para o século passado, mas posso dizer "é", no presente também. Vocês vão ver!).


AS REGRAS MORAIS ERAM O TESOURO A SER GUARDADO À SETE CHAVES!


Lembremos que Durkheim via a sociedade como uma instância superior à vida individual. A sociedade se sobressaía a qualquer vontade individual; ela era dotada de vida própria, e cuja perfeição suplantava qualquer ato ou vontade de natureza individual. A existência da sociedade independe da vontade dos indivíduos, e estes POBRES AUTÔMATOS SOCIAIS ainda por cima reconhecem e são cúmplices da AUTORIDADE que emana da vida social!!! Ai ai ai de quem ousa desrespeitar.

A prova deste AMOR INCONDICIONAL dos indivíduos pela sociedade manifestava-se (e ainda manifesta, creio eu) nas periodicidades dos rituais que marcam nossos calendários.
COMEMORAR O NATAL, PARTICIPAR DA FESTA TRADICIONAL DO BAIRRO, REZAR COM A PARÓQUIA, PARTICIPAR DAS NOVENAS, FAZER O JURAMENTO DE FORMATURA, DE POSSE DE CARGOS PÚBLICOS, ETC., É DAR UMA PROVA DE AMOR À SOCIEDADE!!!
Sim! Os RITUAIS são necessários, já dizia Saint Exupéry, em seu célebre romance infanto-juvenil “O pequeno príncipe”. Aliás, Saint Exupéry era mais Durkheimiano do que imaginávamos. O Pequeno Príncipe tinha um ritual diário: cuidar de sua rosa, dos vulcões e podar os pés de baobás. Esta repetição de sequências ordenadas, de palavras e atos expressas por meios diversificados (como a música, os atos, a fala, por exemplo), representa o esforço e a vontade da coletividade, temerosa de que seus ideais possam se perder ou desaparecer, o que seria o fim desta associação inédita e única chamada sociedade.

Por isso que os rituais não param nunca. Todos os anos se repetem, com poucas variações em todos os grupos. Muitos destes rituais são religiosos, outros como "brindar" os copos antes de beber o vinho, tornaram-se secularizados. Os rituais são tão presentes que sequer os percebemos em nossas vidas. Mas tem muitos, e a cada geração que entra ou sai, os mesmos rituais se repetem. Dizemos que eles são REVIVIFICADOS.


REPETIR OS RITUAIS E REVIVIFICÁ-LOS é dar manutenção na vida social, assim como se faz a manutenção da casa, do automóvel, a manutenção da sociedade se faz assim: através dos rituais. Ao repetir os rituais portanto, ganha-se coesão, a vitalidade e mais fôlego para a preservação do próprio grupo no tempo!!!! A revivificação ritual assegura e reabastece o grupo de energia nova!!!!

Mas cuidado aí pessoal: Durkheim é meio exagerado e severo quanto a tudo isso que estamos tratando. Leiam com desconfiança tá?

PORÉM,

[...] não deixam de ser pertinentes as observações que o velhinho francês e filho de rabino aponta, ainda mais quando entendemos que nos dias atuais a migração, diáspora, exílio, acampamento de refugiados, etc., ameaçam a continuidade de muitos grupos culturais mundo afora, retirando-os de seus grupos de origem, dezenraizando-os em sua cultura e identidade. O DEZENRAIZAMENTO AMEAÇA A POSSIBILIDADE DA CONTINUIDADE DOS RITUAIS, E POR EXTENSÃO, DA VIDA SOCIAL DO MIGRANTE.

Um comentário:

Carlos Serra disse...

Olá! Referi-me a si no meu blogue. Abraço!

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RECADO AOS SOCIÓLOGOS ACADÊMICOS

O Brasil tem na universidade o reduto clássico dos Sociólogos. Dificilmente vocês encontrarão sociólogos trabalhando em outros lugares (empresas, escolas, profissional liberal, etc.). Existem várias razões de ser assim: a tradição do conhecimento sociológico que herdamos na universidade tem pouca serventia para outras áreas da vida. Nos Estados Unidos por exemplo, sabemos que os sociólogos são considerados os mais experts em estatística, pesquisa quantitativa, SPSS (software de tabulação e cruzamento de dados). Por isso nos Estados Unidos os Sociólogos conseguem ter muito mais inserção do que aqui no Brasil, onde poucos se dão bem no mundo do trabalho. Eu, por exemplo, tenho que ensinar geografia para ser sociólogo! Isso é um grande contrasenso. Bom seria ensinar sociologia. Mas ainda não chegou a hora. Enfim! Quero dizer para meus amigos sociólogos que vocês não encontrarão nada no formato padrão, tal qual estamos acostumados a ler. Aqui não existem citações da ABNT, não existem citações literais de livros da literatura sociológica, não existem biografias de autores clássicos e contemporâneos. Se eu considerasse tudo isso, o "povo" que quer conhecer o "mundo" pela sociologia sequer se aproximaria das minhas letras. Daí que optei pela linguagem simples e próxima do dia-a-dia de todos. Posso estar cometendo pecados, sacrilégios, enfim. Mas o que me importa é transmitir a idéia de que a sociologia - antes de qualquer definição - é um MOVIMENTO DO PENSAMENTO, em que partimos das situações aparentemente banais da vida ordinária e cotidiana, para elevar a reflexão a um outro plano de compreensão, mas abstrato, amplo e extraordinário. Isso é a tal da IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA, e que todos podemos exercitar. CERTO? Grande abraço à todos.

Olá, muito prazer!

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Sociólogo apaixonado pela vida, pelo convívio e pela imaginação.