“EU AMO A SOCIEDADE!”
Estranha declaração de amor! Como é possível amar algo que não tem tamanho, espessura, forma e volume definidos? Como abraçar e trocar afetos com algo tão imenso, incomensurável e abstrato como a sociedade?
Absurdo isso não é pessoal? Mas trocando o tom de brincadeira para uma reflexão séria, Durkheim concebia que a sociedade, salvaguardada pelas regras morais, era realmente amada por todos os indivíduos. (Digo "eram" para me contemporizar com o autor da passagem do século retrasado para o século passado, mas posso dizer "é", no presente também. Vocês vão ver!).
AS REGRAS MORAIS ERAM O TESOURO A SER GUARDADO À SETE CHAVES!
Lembremos que Durkheim via a sociedade como uma instância superior à vida individual. A sociedade se sobressaía a qualquer vontade individual; ela era dotada de vida própria, e cuja perfeição suplantava qualquer ato ou vontade de natureza individual. A existência da sociedade independe da vontade dos indivíduos, e estes POBRES AUTÔMATOS SOCIAIS ainda por cima reconhecem e são cúmplices da AUTORIDADE que emana da vida social!!! Ai ai ai de quem ousa desrespeitar.
A prova deste AMOR INCONDICIONAL dos indivíduos pela sociedade manifestava-se (e ainda manifesta, creio eu) nas periodicidades dos rituais que marcam nossos calendários.
COMEMORAR O NATAL, PARTICIPAR DA FESTA TRADICIONAL DO BAIRRO, REZAR COM A PARÓQUIA, PARTICIPAR DAS NOVENAS, FAZER O JURAMENTO DE FORMATURA, DE POSSE DE CARGOS PÚBLICOS, ETC., É DAR UMA PROVA DE AMOR À SOCIEDADE!!!
Sim! Os RITUAIS são necessários, já dizia Saint Exupéry, em seu célebre romance infanto-juvenil “O pequeno príncipe”. Aliás, Saint Exupéry era mais Durkheimiano do que imaginávamos. O Pequeno Príncipe tinha um ritual diário: cuidar de sua rosa, dos vulcões e podar os pés de baobás. Esta repetição de sequências ordenadas, de palavras e atos expressas por meios diversificados (como a música, os atos, a fala, por exemplo), representa o esforço e a vontade da coletividade, temerosa de que seus ideais possam se perder ou desaparecer, o que seria o fim desta associação inédita e única chamada sociedade.
Por isso que os rituais não param nunca. Todos os anos se repetem, com poucas variações em todos os grupos. Muitos destes rituais são religiosos, outros como "brindar" os copos antes de beber o vinho, tornaram-se secularizados. Os rituais são tão presentes que sequer os percebemos em nossas vidas. Mas tem muitos, e a cada geração que entra ou sai, os mesmos rituais se repetem. Dizemos que eles são REVIVIFICADOS.
REPETIR OS RITUAIS E REVIVIFICÁ-LOS é dar manutenção na vida social, assim como se faz a manutenção da casa, do automóvel, a manutenção da sociedade se faz assim: através dos rituais. Ao repetir os rituais portanto, ganha-se coesão, a vitalidade e mais fôlego para a preservação do próprio grupo no tempo!!!! A revivificação ritual assegura e reabastece o grupo de energia nova!!!!
Mas cuidado aí pessoal: Durkheim é meio exagerado e severo quanto a tudo isso que estamos tratando. Leiam com desconfiança tá?
PORÉM,
Um comentário:
Olá! Referi-me a si no meu blogue. Abraço!
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