terça-feira, 28 de outubro de 2008

DURKHEIM E O BRASIL: ELE TAMBÉM SE PREOCUPAVA CONOSCO!

Durkheim e o Brasil? Qual a relação? Aparentemente nenhuma. Nunca soube que Durkheim tenha feito sequer uma citação deste país, mas eu encontrei uma bela de uma coincidência ao ler um texto introdutório de seu pensamento, escrito por Tânia Quintaneiro, sobre vida e obra do autor, que viveu na França (Bordeaux e Paris, no século XIX e xx).


Durkheim fala da dualidade dos fatos (regras) morais, e afirma que estes são também, fatos sociais, e que como tal, expressa as mesmas características destes. Todavia, além de apresentar as características comuns a qualquer fato social (exterioridade, generalidade, coercitividade), os fatos morais apresentam também a característica de serem sentidos como COISAS AGRADÁVEIS, DE QUE DESEJAMOS E GOSTAMOS ESPONTANEAMENTE.

Tudo bem até aqui! Gostamos de manter a boa forma, de dormir cedo e não se apegar a vícios físicos e psicológicos, como cigarro, cerveja, conhaque, cachaça, pinga, chopp, martini, vodka, wisky, e tudo quanto é tipo de tóxicos. Ninguém teria coragem de afirmar o contrário, pois sentiria os tais “olhares de reprovação” da sociedade. IMAGINEM SÓ UM PAI QUE CHAMA O FILHO de três anos E DIZ: “FILHO, VEM CÁ! TOMA AQUI SEU CIGARRINHO!”. Não é preciso dizer que isto não convém à ninguém, certo? Portanto, cultivar bons hábitos que preservem a saúde, a beleza, a assiduidade no trabalho, a velocidade, a organização, a praticidade, etc., é apegar-se aos ideais coletivos, respeitados e prestigiados por todos. Quem quiser ser contra será enquandrado como anti-social.


POIS BEM, VEJAMOS ENTÃO O QUE NOS DIZ DURKHEIM, PARA QUE POSSAMOS COLOCAR O BRASIL NESSA HISTÓRIA TODA:


SOMENTE UMA SOCIEDADE CONSTITUÍDA GOZA DE SUPREMACIA MORAL E MATERIAL INDISPENSÁVEL PARA FAZER A LEI PARA OS INDIVÍDUOS; POIS SÓ A PERSONALIDADE MORAL QUE ESTEJA ACIMA DAS PERSONALIDADES PARTICULARES É QUE FORMA A COLETIVIDADE. SOMENTE ASSIM ELA TEM A CONTINUIDADE E MESMO A PERENIDADE NECESSÁRIAS PARA MaNTER A REGRA AcIMA DAS RELAÇÕES EFÊMERAS QUE A ENCARNAM DIARIAMENTE (foi o próprio Durkheim quem escreveu isso!)

ENTENDEU A BRINCADEIRA?

AÍ EU PERGUNTO À VOCÊS:

- SERÁ QUE NÓS BRASILEIROS JÁ formamos UMA SOCIEDADE CONSTITUÍDA, nos termos acima colocados? MAS PORQUE AINDA NÃO DEMOSTRAMOS a SUPREMACIA MORAL E MATERIAL PARA FAZER LEIS?



AÍ EU RESPONDO À VOCÊS:
- DEMONSTRAMOS SIM! QUEM FALOU QUE NÃO? SOMOS SIM UMA SOCIEDADE CONSTITUÍDA, NESTA PERSPECTIVA DE DURKHEIM. MAS VEJA BEM. NÃO VAMOS SAIR DA REALIDADE... VOLTEMOS À ELA:
Há pouco tempo em São Paulo surgiu (via decreto-lei) uma lei chamada “Cidade Limpa”. Seria somente mais uma "leisinha" que logo logo cairia no esquecimento de todos e das autoridades municipais. Mas aconteceu o oposto do que pensavam, e “pegou”. Toda a indústria da propaganda foi afetada pela lei, e prevalesceu a vontade moral maior – DE VIVER EM UMA CIDADE SEM OUT-DOORS, entendendo que estes prejudicam o bem-estar dos habitantes do espaço urbano e PÚBLICO. E eis que a Lei funcionou contra a expectativa de todos. Em pouco tempo fiscais da Prefeitura conseguiram tirar todos os out-doors da metrópole, e todos gostaram da idéia, e... soubemos... o Prefeito se reelegeu.


Há também o exemplo da “lei seca”, que aponta para o mesmo caminho. Diariamente os noticiários de jornais e televisão mostram os números alcançados na taxa de mortes no trânsito; estratégias utilizadas pelos jovens para retornarem em segurança dos bares e boates no meio da madrugada; as blitz dos policiais, que agora possuem maior número de bafômetros. Estas informações visam reforçar os ideais da vida coletiva, de uma sociedade constituída do ponto de vista moral e material.
Tem mais exemplos ainda... da própria Polícia Federal, que cumpre as obrigações de seu estatuto e sai a caça dos poderosos metidos em esquemas escusos de corrupção e tudo mais. Enfim, tudo isso nos leva a pensar sobre o Brasil e aceitar uma idéia nova:



NÃO SOMOS MAIS A MESMA SOCIEDADE ESTUDADA POR GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, etc. RESPEITO TODOS ELES E SEUS PARENTES, MAS TEMOS ALGO DE DIFERENTE QUE ESTES AUTORES, POR NÃO ESTAREM VIVOS HOJE, NÃO PRESENCIARAM, e PORTANTO, NÃO PUDERAM CAPTAR.


UMA DESTAS TRANSFORMAÇÕES DIZ RESPEITO A APLICAÇÃO DE CERTAS LEIS VOLTADAS PARA A REALIZAÇÃO DO IDEAL DE VIDA URBANA MANTIDOS PELA COLETIVIDADE, E NÃO PRIVILEGIANDO O INTERESSE DE UM OU OUTRO GRUPO ECONOMICAMENTE MAIS FORTE.

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RECADO AOS SOCIÓLOGOS ACADÊMICOS

O Brasil tem na universidade o reduto clássico dos Sociólogos. Dificilmente vocês encontrarão sociólogos trabalhando em outros lugares (empresas, escolas, profissional liberal, etc.). Existem várias razões de ser assim: a tradição do conhecimento sociológico que herdamos na universidade tem pouca serventia para outras áreas da vida. Nos Estados Unidos por exemplo, sabemos que os sociólogos são considerados os mais experts em estatística, pesquisa quantitativa, SPSS (software de tabulação e cruzamento de dados). Por isso nos Estados Unidos os Sociólogos conseguem ter muito mais inserção do que aqui no Brasil, onde poucos se dão bem no mundo do trabalho. Eu, por exemplo, tenho que ensinar geografia para ser sociólogo! Isso é um grande contrasenso. Bom seria ensinar sociologia. Mas ainda não chegou a hora. Enfim! Quero dizer para meus amigos sociólogos que vocês não encontrarão nada no formato padrão, tal qual estamos acostumados a ler. Aqui não existem citações da ABNT, não existem citações literais de livros da literatura sociológica, não existem biografias de autores clássicos e contemporâneos. Se eu considerasse tudo isso, o "povo" que quer conhecer o "mundo" pela sociologia sequer se aproximaria das minhas letras. Daí que optei pela linguagem simples e próxima do dia-a-dia de todos. Posso estar cometendo pecados, sacrilégios, enfim. Mas o que me importa é transmitir a idéia de que a sociologia - antes de qualquer definição - é um MOVIMENTO DO PENSAMENTO, em que partimos das situações aparentemente banais da vida ordinária e cotidiana, para elevar a reflexão a um outro plano de compreensão, mas abstrato, amplo e extraordinário. Isso é a tal da IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA, e que todos podemos exercitar. CERTO? Grande abraço à todos.

Olá, muito prazer!

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Sociólogo apaixonado pela vida, pelo convívio e pela imaginação.