
É necessário, antes de mais nada, explicar o que os sociólogos entendem por interação social. Em síntese, esta expressão refere-se a todo processo pelo qual indivíduos agem e reagem às pessoas que estão a sua volta. Daí ser correto, nesta perspectiva, considerar que desde o momento em que acordamos, abrimos a porta do nosso quarto e nos deparamos com a mãe fazendo café na cozinha, e logo soltamos um “bom dia”, estamos ao mesmo tempo dando início a mais um dia de múltiplas interações sociais. Portanto, nos interagimos pelos sentidos, isto é, pelo olhar (em nosso exemplo, eu olho para minha mãe) e pelo diálogo (em nosso exemplo também, eu digo bom dia para minha mãe). Há outras questões envolvidas (os traços da face, o discurso, o corpo, etc.) no processo interativo, mas para os objetivos deste post bastam as considerações acima apresentadas.
Pois bem, existe um sociólogo norte-americano pouco conhecido chamado Edward T. Hall (1914- ) cujo interesse de pesquisa são justamente estes micro-processos da vida cotidiana. Edward T. Hall fez inúmeras investigações neste campo de pesquisa, e aos poucos construiu uma tipologia (uma espécie de categorias classificatórias) das zonas de interação, em que a ocorrência da interação estava diretamente relacionada à distância que separa os sujeitos que se defrontam. Vejamos na tabela abaixo como Edward T. Hall formou esta sua tipologia das zonas de interação:
Zonas de interação | OCORRÊNCIA | DISTÂNCIA (m) |
DISTÂNCIA ÍNTIMA | Entre amantes, pais e filhos | Aproximadamente 33 centímetros |
DISTÂNCIA PESSOAL | Entre amigos e conhecidos íntimos | Entre 33 centímetros e 88 centímetros |
DISTÂNCIA SOCIAL | Entrevistas, relações hierárquicas de trabalho | Entre 88 centímetros e 2,64 metros |
DISTÂNCIA PÚBLICA | Sala de aula, palestra, reuniões, cultos religiosos | Acima de 2,64 metros |
É importante ressaltar que há processos interativos em que nos colocamos muito próximos de outros indivíduos (como em uma estação de metrô muito movimentada), porém, ainda que ambos estejam dentro da zona de interação íntima, ao mesmo tempo ambos tem a consciência mútua de que estão lá naquele encontro coletivo sem a necessidade de entrar em conversação direta.

Agora estamos em condições de explicar sociologicamente por que não aceitamos muito bem a idéia de “dividir o banco do ônibus” com outrem desconhecido, ainda que contra o nosso desejo, tendemos a aceitar a idéia sem maiores constrangimentos.
A questão é simples: na interação comum, as zonas mais disputadas são as da distância íntima e pessoal. Se por acaso essas zonas são “invadidas”, as pessoas tentam recapturar seu espaço. Encaramos os “intrusos” como se disséssemos: “SAIA DAQUI!”. As marcas do rosto transmitem de forma não-verbalizada esta mensagem. Alguns ultrapassam as normas da boa convivência e faz uso de cotoveladas (como nas filas para a compra de objetos escassos, como entradas para assistir a um megashow, por exemplo).

Quando os indivíduos são forçados a se aproximarem mais do que julgam necessário, podem até mesmo criar algum tipo de fronteira física. Um leitor em uma biblioteca, por exemplo, senta-se na mesa mais vazia do espaço (de preferência longe do campo de visão de todos) e pode até mesmo colocar livros nas bordas das mesas para evitar uma proximidade maior. Eu mesmo já testemunhei muitos processos deste tipo e que, curiosamente, aconteciam entre os próprios “aprendizes de sociólogos” na biblioteca do campus universitário.

Portanto, da próxima vez que nos encontrarmos em situações de disputa de zonas de interação, lembrem-se deste post: não é porque somos egoístas ou mesquinhos, mas sim porque estamos resguardando o nosso espaço de interação íntima ou pessoal somente para alguns dos nossos conhecidos. Abraço à todos!
2 comentários:
Oi caro Ivan.
O engraçado desse seu post é que ele se encontra direitinho com meu pensamento nesse tipo de ocasião.
Os primeiros passageiros sempre se acomodam na poltrona da janela, ou pior, se sentam na poltrona do corredor e enchem o outro banco de balangandans... Esse sim tem medo da interação.
E depois, os que não tem opção de escolha se sentam onde a cara estiver menos amarrada ou onde a bolsa não ocupar o seu lugar...
E eu sempre penso que as pessoas pensam "aqui não, aqui não, aqui não ... ufaaa"
Mas não eu... eu não... rsss
Muito legal o blog. Parabéns.
Valeu Evelyn! Você acabou de entrar para a história desse blog. É a primeira pessoa a fazer um comentário, e um excelente comentário. A sociologia nos tras respostas para certas atitudes aparentemente instintivas que tomamos. Mas só aparentemente... se colocamos as bolsas e blusas e outros balagandans no banco vazio é porque gostaríamos de escolher quem, de fato, poderia estar ao nosso lado. E a sociologia nos diz que somente os mais íntimos e queridos tem lugar neste espaço pessoal. Um grande abraço do Ivan e continue participando. Valeu...
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