sábado, 18 de outubro de 2008

Alegria de pobre dura pouco: considerações da crise econômica.


Vamos falar um pouco de temas sérios, “pesados”, da sociologia, e que flerta também com a ciência econômica. Vamos falar do que significa a atual crise econômica para o mundo. Há muitos significados envolvidos nestes acontecimentos do cotidiano econômico: seja a crise do setor imobiliário dos Estados Unidos da América, de onde tudo originou; seja a propagandeada “blindagem” da economia brasileira que, neste momento, estaria preparada como nunca para enfrentar esta crise; seja as saídas paliativas que os governos dos principais pólos econômicos mundiais (Estados Unidos, Europa e Japão) tem assumido para reverter esta situação de desequilíbrio. Este último caso é o que mais me importa discutir com vocês, caríssimos leitores.
Após este movimento de “zigue-zague” das cotações nas bolsas de valores passar, uma coisa será definitiva: a maior parte dos bancos mundiais estarão nas mãos dos governos de cada país. E isto sinaliza um novo tipo de capitalismo, com características únicas, e que para alguns sociólogos como Immanuel Wallerstein, não tem mais a essência central do modo de produção capitalista. Assim, estaríamos diante de uma transformação social e econômica que não é mais capitalista. Uma outra ordem estaria surgindo. (Veja aqui a entrevista de Immanuel Wallerstein).
O que isso representa? Na expressão mais direta e popular: uma bela de uma rasteira no liberalismo econômico. A tradição de não-intervencionismo estatal na economia – muito mais apregoada nos Estados Unidos do que na Europa – foi por água abaixo, e em termos teóricos, isso mostra a fraqueza e definhamento da “era neo-liberal”. A maior parte dos bancos privados estão sendo estatizados, ou seja, o movimento de valorização e especulação financeira a partir de então estará sob o jugo dos Estados e não mais dos respectivos banqueiros. Alguma mudança nisso tudo?
Para nós que pertencemos a “geração da crise”, isto é, nascemos e vivenciamos o grande período de estagnação dos anos 80 e 90, uma lembrança fica disso tudo: a lembrança de um pequeno e próspero momento de estabilidade, expansão do consumo, dos mercados e da economia em geral, queda das taxas de desemprego, etc. Neste ínterim de prosperidade o Brasil tornou-se - através de uma mágica numérica - um país de "classe média". Estávamos orgulhosos de nossa pujança econômica, da sensação de que o esforço da crise valera à pena! Mas o banquete estava ficando farto demais. A prosperidade durou muito pouco, talvez um ou dois anos, e acho que está chegando ao fim. Novamente retornaremos aos pífios índices de crescimentos anuais; as notícias de que amigos ou conhecidos estão desempregados ou subempregados há tantos anos...; novamente o alarmado “mercado popular ou de classe baixa”, vai voltar a obscuridade e ninguém mais vai dar bola para o consumo dos pobres...

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RECADO AOS SOCIÓLOGOS ACADÊMICOS

O Brasil tem na universidade o reduto clássico dos Sociólogos. Dificilmente vocês encontrarão sociólogos trabalhando em outros lugares (empresas, escolas, profissional liberal, etc.). Existem várias razões de ser assim: a tradição do conhecimento sociológico que herdamos na universidade tem pouca serventia para outras áreas da vida. Nos Estados Unidos por exemplo, sabemos que os sociólogos são considerados os mais experts em estatística, pesquisa quantitativa, SPSS (software de tabulação e cruzamento de dados). Por isso nos Estados Unidos os Sociólogos conseguem ter muito mais inserção do que aqui no Brasil, onde poucos se dão bem no mundo do trabalho. Eu, por exemplo, tenho que ensinar geografia para ser sociólogo! Isso é um grande contrasenso. Bom seria ensinar sociologia. Mas ainda não chegou a hora. Enfim! Quero dizer para meus amigos sociólogos que vocês não encontrarão nada no formato padrão, tal qual estamos acostumados a ler. Aqui não existem citações da ABNT, não existem citações literais de livros da literatura sociológica, não existem biografias de autores clássicos e contemporâneos. Se eu considerasse tudo isso, o "povo" que quer conhecer o "mundo" pela sociologia sequer se aproximaria das minhas letras. Daí que optei pela linguagem simples e próxima do dia-a-dia de todos. Posso estar cometendo pecados, sacrilégios, enfim. Mas o que me importa é transmitir a idéia de que a sociologia - antes de qualquer definição - é um MOVIMENTO DO PENSAMENTO, em que partimos das situações aparentemente banais da vida ordinária e cotidiana, para elevar a reflexão a um outro plano de compreensão, mas abstrato, amplo e extraordinário. Isso é a tal da IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA, e que todos podemos exercitar. CERTO? Grande abraço à todos.

Olá, muito prazer!

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Sociólogo apaixonado pela vida, pelo convívio e pela imaginação.